domingo, novembro 21, 2004

Quando o mar foi mais azul...

E, porque foi de mãos dadas q olhámos juntos o mar, ele foi mais azul e foi mais mar. Talvez por isso nos tenha oferecido cachos de sol que nos tornaram as íris mais brilhantes e a pele mais macia... Foi ele, assim dormente, que nos humedeceu os lábios e nos enterneceu o entrelaçar dos dedos...

Deslizei, pois, nos contornos doces dos teus lábios e, sem q tu soubesses, despojei-me de todas as vestes para que me sentisses apenas na saliva que nos fundiu as almas. E a cada vez que esqueci os olhos cerrados viajei nos trilhos do teu corpo, no macio da tua pele serena e na ternura da tua voz...

E enquanto foste o meu regaço, eu soube sempre que ao nosso lado, magicamente calmo, estava o mar, sussurrando baixinho que o seu silêncio era o eco de um sorriso divino...

chiuuuuuuuuuuuu...

terça-feira, novembro 16, 2004

guardadas...as minhas mãos...

Sentada nos braços escuros da noite, sinto sede da lua... e sinto sede de ti...
Não sei porque não consigo esquecer o cheiro do mar se não são de algas as vestes que me cobrem o corpo nem de corais as íris que me trazem a tua imagem...
Vagueio para além do espaço que sufoca a extensão das mãos agora completamente ausentes de mim...
Guardaste as minhas mãos no teu rosto que não alcanço... guardaste-as nas tuas e, é por isso que é a minha alma que te escreve e não as minhas mãos...
Mantém as minhas mãos assim guardadas nas tuas... não mas restituas porque eu nunca mais quero escrever-te com elas.
É muito mais fácil escrever-te com a minha alma porque as mãos nunca escrevem completamente o verbo amar...

Um beijo
Cris (Sussurros fora do tempo...)

sexta-feira, novembro 05, 2004

Na eternidade de um momento...

Abraça-me... faz de mim um prolongar do teu próprio corpo. Abraça-me esta noite em que chegam até mim os ecos dessas lágrimas que te alongam o olhar e te salgam a língua. Deixa-me beber de ti essa mágoa de que me culpo a cada instante...
Deixa-me embalar-te, meu amor, e invadir a hora dos teus sonhos, como se fosse um espaço meu. Não descerres as pálpebras... quero entrar devagarinho no teu mundo, tão devagarinho que mais não pareça que um leve encostar da minha cabeça nos teus ombros.
E este abraço que te peço, gostava que fosse ao ritmo do mover das penas nas brisas quentes de um entardecer ameno, com cheiro de ervas rasteiras e juncais... e com sol, muito sol, mas já naquele tom alaranjado e nostálgico que se prende nas íris de quem o sorve de braços e olhares entrelaçados. Era assim que eu queria que que a tua pele tocasse a minha, pelo meio dos teus braços nas minhas costas e do meu pescoço nas tuas mãos... e ao som daquela força que os corpos sussurram baixinho quando se desejam... E também era assim que eu queria depois deixar que o meu corpo deslizasse para o teu colo, antevendo o acordar da lua num leito de água doce, bordado de sons de palmeiras ao ritmo dos primeiros frescos da noite e de pequenos rumores de ondas em embrião...E sentada no teu colo, no momento mais perfeito deste abraço, bordaria a saliva no teu ouvido o sussurro "queria que este momento fosse eterno..."
E sabes, amor, quando a lua, já cansada, adormecesse, o amanhecer encontar-nos-ia numa qualquer margem de um rio, adormecidos... mas abraçados.Bastava sabermos parar o tempo ...
Cris

terça-feira, novembro 02, 2004

Nas asas de um beijo...

Continuámos de mãos dadas ao longo de um espaço que apenas nós sentimos... parte de um canto da vida que apenas mãos dadas podem alcançar. É lá nesses momentos de vida sem chão que dançam as palavras que nos escorregam, líquidas, dos lábios ,em forma de beijos e sorrisos cúmplices...
Ao sentir o calor do teu olhar, deixa de me importar o quando, pois que sei q há olhares que resgatam braços que se prolongam para além do tempo e que há sentires que não se confinam aos espaços.
Hoje, nesta noite tão escura, tenho ao longe, por companhia, a música divina de uma família cigana. E, porque chove, a melodia torna-se ainda mais cristalina e as vozes mais brilhantes. O céu parece abrir-se em regaços às cornucópias dos sons e, os corpos, sinto-os como se desenhassem suaves piruetas de anjos em ascenção...
Permaneço pois de olhos postos no éter, sabendo aproximarem-se os contornos de um sonho de roçar de ventres que o crescente fortalecer destas mãos dadas traduz num simples sorriso amarrado ao cheiro do mar... e adormeço nas asas de um beijo!

segunda-feira, novembro 01, 2004

Abandono-me neste encanto...

Vai já alta a noite e as palavras tentam enroscar-se no embalo do universo dos sonos, mas obrigam-me os dedos a despertá-las para que possa, eu, viajar nelas um pouco. Não sei exactamente até onde me levarão neste momento, por isso deixo que corram livremente ao sabor do pensamento.
Sei que encontraste o meu sorriso no seguir terno e lento dos trilhos das estrelas do mar, como sei que depositaste ao seu lado os teus lábios, em gesto igual. E sei, também, que é assim que as searas se cobrem de girassóis gigantes e de arco-íris que trespassam nuvens de algodão doce.
Sento-me um pouco, olhando o brilhar das areias, sob o luar, e encontro as pegadas dos teus pés que, entretanto, descalçaste também. E, sabes?... descobri que os teus passos e os meus se entrelaçaram à semelhança de um crispar de dedos na hora da entrega de dois olhares em fusão.
E porque há encantos que não se confinam aos limites do que é razão, vou abandonar-me a esta noite de luares mágicos, encostando suavemente a minha cabeça no teu peito e adormecer no doce sentir de um beijo teu...
Cris (Sussurros fora do tempo)