terça-feira, outubro 31, 2006

velando...

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dormes...
e eu velo esse teu dormir
com a intensidade de quem sente as ondas do mar
no respirar dos teus sonhos

e por sobre os teus lábios nasço em rio
e em vagas de beijos crio marés de ternuras

e enlaço-te-me no restolho dos desejos
que me viajam nas veias
e norteiam as pontas dos meus dedos
agora tímidos e mansos e cansados...
...porque adormecidos nesses teus sonhos.

dormes...
mutilas assim em mim a ânsia
de ser o luar dessa tua noite mágica
em que me deito e descanso...

pudesse esta noite ser eterna
e nela depositar a fugacidade de um beijo
que te dou a cada pedaço de olhar
que os meus olhos te resgatam

pudesse esta noite ser o perpetuar
dos sorrisos que adivinho na leveza dos gestos
com que embalas este meu velar
dos teus sonhos vadios

fosse esta noite a última noite das noites
e eu nem o mais pequeno gesto faria
que agitasse esse teu sorriso ameno
que pressinto no teu rosto...

enquanto dormes...

Cris, reflexos de nós

quarta-feira, outubro 04, 2006

A tempestade e a bonança...


Lá fora o vento uiva
E o alarme de um carro
Ouve-se, desesperado,
Num lamento...
Num simples grito
Da criança
Do apartamento ao lado
Soa o medo
Que vive em segredo,
Mas disfarça numa birra...

Aqui, no meu quarto,
Enrosco-me nas palavras
Que te escrevo,
Enquanto, lá fora,
Se faz sentir o vento...

Lembro os Invernos da infância,
Cheios de noites de lamento
Quando, ao longe,
Além do mar, ouvia o vento
Lutando com as ondas
E o medo, das almas
Que seguiam naquele barco...
Os homens das mulheres
Que em pranto farto
Prometiam caminhar
Por sobre o asfalto
Em troca da chegada
Sã e salva...

E o dia amanhecia calmo...
Os homens estavam a salvo
E na igreja lia-se o salmo
Em que se fala de tempestade
E de bonança...
Na lembrança, apenas o calo
Das mãos que cheias de esperança
Haviam ganho a luta
De um barco
Contra mar e vento...

Na areia jaziam as marcas
Da espera da noite
E do tempo...

É bom lembrar...

O alarme do carro
Continua o seu lamento...
Lá fora ainda o vento...
Mas a criança parou de chorar!
Cris in Sem Distâncias