sexta-feira, novembro 05, 2004

Na eternidade de um momento...

Abraça-me... faz de mim um prolongar do teu próprio corpo. Abraça-me esta noite em que chegam até mim os ecos dessas lágrimas que te alongam o olhar e te salgam a língua. Deixa-me beber de ti essa mágoa de que me culpo a cada instante...
Deixa-me embalar-te, meu amor, e invadir a hora dos teus sonhos, como se fosse um espaço meu. Não descerres as pálpebras... quero entrar devagarinho no teu mundo, tão devagarinho que mais não pareça que um leve encostar da minha cabeça nos teus ombros.
E este abraço que te peço, gostava que fosse ao ritmo do mover das penas nas brisas quentes de um entardecer ameno, com cheiro de ervas rasteiras e juncais... e com sol, muito sol, mas já naquele tom alaranjado e nostálgico que se prende nas íris de quem o sorve de braços e olhares entrelaçados. Era assim que eu queria que que a tua pele tocasse a minha, pelo meio dos teus braços nas minhas costas e do meu pescoço nas tuas mãos... e ao som daquela força que os corpos sussurram baixinho quando se desejam... E também era assim que eu queria depois deixar que o meu corpo deslizasse para o teu colo, antevendo o acordar da lua num leito de água doce, bordado de sons de palmeiras ao ritmo dos primeiros frescos da noite e de pequenos rumores de ondas em embrião...E sentada no teu colo, no momento mais perfeito deste abraço, bordaria a saliva no teu ouvido o sussurro "queria que este momento fosse eterno..."
E sabes, amor, quando a lua, já cansada, adormecesse, o amanhecer encontar-nos-ia numa qualquer margem de um rio, adormecidos... mas abraçados.Bastava sabermos parar o tempo ...
Cris

1 comentário:

Alexandre de Sousa disse...

Mais do que no saber a vontade de o ser, naquele instante preciso da paragem do tempo. Que tempo aquele na palma da mão...