domingo, outubro 31, 2004

Deixei-te um sorriso junto às estrelas do mar...

Acompanha-me a noite neste prolongar de mim, para além de qualquer rumo ou de qualquer maré...
E desnudos continuam os meus pés para que os caminhos que percorro se me entranhem na pele e em mim permaneçam para além destes momentos sem horas, sem passados, sem histórias...
Ao olhar a areia molhada sei que um pouco de mim permanecerá em cada vestígio dos meus pés descalços e se prolongará em cada amanhecer, renascendo assim no regaço do teu olhar doce. E a cada passo que dou, nas baínhas rendadas do mar, vou deixando estrelas a assinalar o caminho, como quem semeia um campo de sorrisos.

E eu ouço o mar ao fundo... ele traz-me do longe pedaços de sonhos completamente moldados ao espaço dos teus braços, asas vestidas de ternura branca como a espuma das ondas quando beijam as areias. E traz-me sussurros em que me segreda que a beleza rara dos horizontes é real e que é nas breves partilhas de silêncios que as distâncias se dissipam melodiosamente.

Contou-me, uma vez, este guerreiro das marés, que as distâncias não existem quando aprendemos a viajar no éter, prolongando-nos para além do que sentimos. Para tanto basta cerrarmos as pálpebras docemente, rasgarmo-nos de nós próprios e deixar germinar no peito as asas da nossa alma. Depois, numa entrega plena ao que de nós é pensamento, saberemos prosseguir num voo sem limites e sem barreiras impostas pelo tempo ou pelo espaço.
Acabou por me contar, em segredo, que é assim possível saber o aroma de um beijo... e eu acreditei!

E nunca mais cobri os meus pés.
Quedo-me, pois, também eu, em silêncio... e devagarinho abro-te os meus lábios num sorriso que deposito suavemente na beira das ondas, junto às estrelas do mar...


Cris ( Sussurros fora do tempo)

1 comentário:

Alexandre de Sousa disse...

Que desafio imenso! Não vou estar à altura de tal façanha. Os teus textos são ao correr da pena, naturalmente, e sabes bem o que isso significa na escrita. Mas, o que eu não faço por um sorriso...